A
má qualidade do sono ou a falta dele afeta o rendimento nas tarefas
cotidianas, o humor e até a memória, já que é durante a noite que o
cérebro consolida as informações adquiridas durante o dia. Mas não é só
isso.
Os
efeitos de noites mal dormidas podem ser sentidos logo na primeira
parada em frente ao espelho, pela manhã: o rosto parece cansado, a pele
fica opaca, aparecem olheiras e até manchas. E se dormir mal ou pouco
virar rotina, mais difícil vai ficar para apagar essas marcas com
corretivo e pó facial.
Durante
o sono o organismo trabalha para desintoxicar e recuperar os tecidos.
"Enquanto dormimos, as células da pele produzem colágeno e se renovam",
afirma Aparecida Machado de Moraes, chefe do departamento de
dermatologia da Universidade Estadual de Campinas. De acordo com o
neurologista Shigueo Yonekura, especializado em sono pelo Hospital das
Clínicas da Universidade de São Paulo, é também à noite que ocorre o
pico de produção do hormônio do crescimento, o GH. "Ele é importante
para a renovação celular e um aliado e tanto no combate ao
envelhecimento da pele", explica o especialista.
Como
se não bastasse, na falta de um sono de qualidade, o cortisol, hormônio
ativado pelo estresse, continua funcionando a toda, sem dar trégua ao
organismo. A consequência direta desse desequilíbrio é a formação de
radicais livres e o aparecimento de rugas precoces. "Manter sob controle
os níveis de cortisol também é importante para garantir a hidratação da
pele", diz Luciana Palombini, pneumologista especialista em medicina do
sono, do Instituto do Sono.
Um
estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto Karolinska, em
Estocolmo, valida a famosa expressão "sono da beleza" e reforça todas as
afirmações feitas até aqui pelos especialistas. No experimento, 23
homens e mulheres, com idades entre 18 e 31 anos, foram fotografados em
duas situações: após oito horas de sono e, novamente, depois de passarem
31 horas acordados.
Os
retratos tirados com a mesma iluminação, a mesma distância da câmera e a
mesma expressão facial foram exibidos a 66 pessoas que, sem saber da
pesquisa, tiveram de escolher quem achavam mais atraente. Ganharam as
fotos dos voluntários registradas após uma noite bem dormida. "A
privação aguda de sono funciona como um processo inflamatório, que pode
comprometer o equilíbrio da pele e acelerar a degradação do colágeno.
Mas o que este estudo concluiu foi que estas alterações também afetam a
opinião dos outros em relação à sua aparência e expressão facial",
sintetiza Luciana.
Para
passar bem longe de todos os malefícios da privação de sono, o correto é
dormir o suficiente para acordar sem nenhum traço de cansaço,
totalmente revigorada. O que nem sempre implica repousar as tais oito
horas por noite, como se convencionou recomendar. Na realidade, a
quantidade de sono diária depende de características individuais. "Cada
pessoa tem seu tempo ideal de sono. Para o repouso ser saudável, ele
precisa permitir que a pessoa chegue a determinados estágios de
relaxamento e isso não depende necessariamente do número de horas",
explica o neurologista Shigueo Yonekura.
Assim,
há pessoas que se satisfazem com seis horas diárias de sono, enquanto
outras não conseguem funcionar direito com menos de dez horas. Para
descobrir em qual grupo você se encaixa faça o seguinte teste: no
período de férias, época em que não há compromissos e preocupações,
desligue o despertador e fuja dos locais barulhentos. Então, durma até
acordar naturalmente e faça as contas de quanto tempo passou sob os
lençóis. Este provavelmente é o seu ideal.
Mas
além da quantidade, é preciso estar atenta à qualidade do sono, que
virá a partir do estabelecimento de uma rotina. É importante determinar
uma hora para despertar e também uma para ir para a cama. Após o jantar,
deve-se poupar energia e exercer apenas atividades relaxantes, como ler
ou assistir a um filme. "Exercícios físicos nunca devem ser praticados
em horários próximos aos de dormir, e os problemas, sempre que possível,
devem ser deixados bem longe da cama", finaliza Yonekura.
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